O Quarteto Fantástico finalmente retorna às telas com o que talvez seja o elemento mais negligenciado nas adaptações anteriores: a noção de família. E aqui, ela não é só pano de fundo, é o eixo narrativo, emocional e simbólico do filme. A Marvel entrega um longa que consegue ser cósmico e caseiro ao mesmo tempo, equilibrando a escala intergaláctica com as tensões e afeto de uma dinâmica familiar real.
Um dos acertos do filme está em não tentar ser “sério e adulto” como tantas produções de super-heróis recentes, mas sim abraçar seu caráter de filme para toda a família, focando na fantasia e na imaginação do mundo dos super-heróis inseridos em uma Terra futurística. Essa leveza contribui para que o filme seja acessível e envolvente, sem perder profundidade.

A química entre os quatro protagonistas é palpável. O roteiro se apoia fortemente na ideia de que, juntos, eles funcionam melhor, não só como super-heróis, mas como pessoas. Há fluidez nas interações e, mesmo com um ritmo acelerado no início (o que poderia ser melhor ajustado com um pouco mais de duração), o filme se sustenta com segurança.
Visualmente, Quarteto Fantástico é um deleite. A direção de arte capricha na estética retrô, remetendo a uma ficção científica dos anos 60 com toques contemporâneos, pense na vibe da série Loki, mas com identidade própria. O design tecnológico e o personagem HERBIE, por exemplo, são tão cativantes que já merecem versões em brinquedo. A fotografia também brilha em momentos-chave, como na sequência visualmente deslumbrante entre Johnny Storm e a Surfista.

Aliás, a Surfista é um dos maiores acertos do filme. Com uma pegada quase jack-kirbiana (uma entre várias homenagens ao mestre Jack Kirby, co-criador original da equipe) ela traz uma profundidade filosófica que remete à era clássica da Marvel. Já o Galactus, divino, imponente e visualmente impactante, surge como um novo vilão de propósito, à la Thanos, despertando tensão com presença e causando silêncio com sua grandiosidade.

Mas nem tudo são flores cósmicas. Há uma camada perceptível de american washing que chama atenção. Toda a trama se ancora em Nova York, com direito a corrida espacial, bandeira americana em destaque e até toques religiosos. Embora seja coerente com a origem dos personagens, a insistência geográfica e simbólica em “salvar o mundo” sempre a partir de Manhattan soa datada e um tanto egocêntrica. Especialmente quando o filme mostra que ameaças globais existem, mas só se manifestam de verdade na Big Apple.
Apesar disso, o incômodo é suavizado pela força da narrativa e pela inteligência com que a Marvel abre caminho para o futuro. As duas cenas pós-créditos são promissoras e, para muitos fãs, podem marcar o início de uma nova fase coesa, algo que os lançamentos pós-Ultimato ainda não tinham conseguido estabelecer com firmeza.

Quarteto Fantástico é, acima de tudo, um presente para os fãs. Um aceno à era clássica da Marvel, mas com olhar moderno. Se os próximos passos forem tão certeiros quanto esse primeiro voo em família, podemos esperar grandes momentos para a nova fase do MCU.
Quarteto Fatástico: Primeiros Passos estreia dia 24 de Julho.
Ficha técnica:

Quarteto Fantástico: Primeiros Passos (2025) – Estados Unidos
Direção: Matt Shakman
Roteiro: Josh Friedman, Eric Pearson, Jeff Kaplan, Ian Springer
Criação dos personagens: Stan Lee e Jack Kirby
Edição: Nona Khodai, Tim Roche
Fotografia: Jess Hall
Design de Produção: Kasra Farahani
Trilha Sonora: Michael Giacchino
Elenco: Pedro Pascal, Vanessa Kirby, Joseph Quinn, Ebon Moss-Bachrach, Ralph Ineson, Julia Garner, Natasha Lyonne



