‘A Favorita do Rei’ (Jeanne du Barry) de Maïwenn oferece um retrato ambicioso e complexo de uma das figuras mais controversas da história francesa. O filme, que marca o retorno de Johnny Depp às telas, é um mergulho na vida de Jeanne du Barry, uma mulher de origem humilde que ascendeu ao topo da corte de Luís XV.
A direção de Maïwenn é, no mínimo, corajosa. Ela opta por uma abordagem que mistura a grandiosidade estética do período com uma intimidade crua, desafiando a visão tradicional de filmes de época. A câmera de Maïwenn nos aproxima de Jeanne, permitindo-nos ver não apenas a magnificência de Versalhes, mas também a solidão e o isolamento que a personagem enfrenta. A escolha de filmar em locais autênticos, como o próprio Palácio de Versalhes, adiciona uma camada de realismo e imersão.
No entanto, o filme peca em alguns aspectos. A narrativa, embora fascinante, por vezes se perde em um ritmo desigual. O roteiro, também assinado pela diretora, não consegue aprofundar-se em certas nuances da personalidade de Jeanne, tornando-a, em alguns momentos, uma figura unidimensional. Sua complexidade é mais sugerida do que efetivamente explorada.
O elenco é um dos pontos fortes. Maïwenn, no papel de Jeanne, entrega uma performance magnética, transitando com fluidez entre a vulnerabilidade e a ousadia. A atriz nos convence de que Jeanne era uma mulher à frente de seu tempo, que se recusava a ser subjugada.
Apesar da expectativa, o desempenho de Johnny Depp é a parte mais polarizadora do filme. No papel de Luís XV, Depp oferece um retrato silencioso e melancólico. Sua atuação, que se baseia mais na expressividade corporal do que em diálogos, é sutil, mas alguns podem considerá-la contida demais, beirando a apatia. Ele é o rei, mas a tela pertence a Jeanne.
‘A Favorita do Rei’ é uma obra que, embora tenha suas falhas, merece ser vista. É uma crítica sutil às convenções de poder e gênero da época, e um lembrete de que a história é muitas vezes contada de um ponto de vista limitado. O filme é um retrato do poder feminino, da paixão e da queda, e da mulher que desafiou a realeza, mesmo que, no final, tenha se tornado uma vítima dela.



