Um terror histórico e atmosférico
O filme de terror “A Própria Carne”, produzido pelo Jovem Nerd e dirigido por Ian SBF, leva o público a um cenário inédito dentro do gênero: a Guerra do Paraguai, conflito em que Brasil, Argentina e Uruguai se uniram contra o Paraguai no século XIX.
Misturando elementos históricos com horror psicológico, o longa apresenta uma abordagem ousada e pouco explorada no cinema brasileiro transformando um dos períodos mais violentos da nossa história em pano de fundo para uma narrativa perturbadora.
Três desertores e uma casa amaldiçoada
A trama acompanha três soldados desertores brasileiros Gabriel (Pierre Baitelli), Gustavo (Jorge Guerreiro) e Anselmo (George Sauma) que, durante a fuga, acabam matando um coronel do exército.
Em desespero, o trio busca abrigo em uma casa isolada, habitada apenas por um velho (Luiz Carlos Persy) e uma jovem misteriosa (Jade Mascarenhas). A partir daí, o clima de suspense se instala e cresce de forma constante, envolvendo o espectador em uma atmosfera de medo e mistério.

Suspense crescente e influência lovecraftiana
A atmosfera opressora é o ponto forte do filme. A ambientação e o suspense são conduzidos com precisão, deixando dúvidas que jamais encontram respostas, um reflexo direto da influência de H.P. Lovecraft.
Há algo sinistro e incompreensível acontecendo, mas o roteiro escolhe o caminho do mistério e da sugestão, nunca da explicação. É o tipo de terror que provoca mais pela incerteza do que pelo susto, mantendo o público preso à sensação de desconforto.
Atuação e produção impecáveis
A produção de “A Própria Carne” impressiona. O trabalho de direção de arte e fotografia cria um ambiente visualmente denso, reforçando o clima claustrofóbico e sombrio da narrativa.
Luiz Carlos Persy e Jade Mascarenhas entregam atuações intensas, sendo peças-chave para o tom inquietante do filme. Entre os soldados, Jorge Guerreiro se destaca com uma performance visceral, especialmente nos momentos de maior tensão.

Um terror para iniciados
“A Própria Carne” é uma grata surpresa para os fãs de horror e, principalmente, para quem aprecia o universo lovecraftiano. No entanto, o filme pode não agradar quem busca um terror mais explicativo.
A narrativa é propositalmente ambígua, com muitos elementos deixados subentendidos o que reforça o estilo de Lovecraft, mas pode frustrar espectadores que esperam respostas concretas.
Veredito
Com uma direção segura, atuações marcantes e uma produção visual de alto nível, “A Própria Carne” consolida-se como uma das apostas mais interessantes do terror nacional recente.
Ainda que o roteiro possa soar enigmático demais para alguns, é um filme que merece ser assistido, especialmente por quem gosta de obras que provocam, intrigam e deixam o espectador refletindo muito depois dos créditos finais.



