Reus 2 chega ao Xbox Series e ao Nintendo Switch trazendo de volta o peculiar charme da série: a sensação de ser uma divindade silenciosa que manipula o destino da humanidade através de titãs colossais. No novo jogo da Abbey Games, os jogadores controlam gigantes com poderes capazes de moldar continentes inteiros, criando biomas, influenciando ciclos de vida e provocando, voluntária ou involuntariamente, a ascensão e queda de tribos humanas. É um jogo que mistura gestão, experimentação e caos calculado, oferecendo uma experiência que se transforma constantemente conforme suas escolhas influenciam a civilização.
Logo nas primeiras horas, Reus 2 mostra sua personalidade: ele não tenta imitar os city builders tradicionais. Em vez disso, coloca o jogador num papel muito mais abstrato e filosófico, onde cada floresta criada, cada animal colocado no mapa ou cada riqueza mineral adicionada pode mudar completamente o rumo de uma sociedade. Não é sobre erguer prédios, é sobre observar o que acontece quando você cria as peças e deixa a humanidade seguir seu próprio caminho. E é aí que o jogo brilha.

A variedade de recursos naturais e combinações possíveis leva a descobertas constantes. A trilha sonora calma e a estética estilizada ajudam na imersão, reforçando a sensação de estar moldando um universo próprio. Enquanto acompanha as tribos humanas se transformando de aldeões primitivos a possíveis exploradores espaciais, ou guerreiros determinados a destruir uns aos outros, o jogador se vê diante de escolhas morais inesperadas: incentivar o progresso? Impedir a autodestruição? Ou simplesmente observar tudo ruir para começar outra humanidade do zero? O jogo não julga, apenas apresenta possibilidades.
Além disso, Reus 2 oferece suporte a múltiplos idiomas, incluindo português, permitindo que mais jogadores possam experimentar seu conteúdo sem barreiras. A interface simples, porém profunda, facilita o aprendizado, mas dominar todas as nuances do ecossistema e do comportamento humano é tarefa para muitas horas. Vale ressaltar que iniciamos a nossa aventura através do Nintendo Switch, e notamos que por contar com muitas funções, no inicio, o jogo se torna mais lento e difícil de ser jogado. Não seria exagero dizer que “faltam botões” no console para dar conta da complexidade do jogo, com isso, chegamos a conclusão de que a experiência no PC pode ser mais prazerosa. Apesar disso, o jogo mantém toda a estrutura e desenvolvimento no console, o que traz uma imersão bacana não apenas para os fãs do game, como para os novos jogadores.

A DLC Era do Gelo adiciona ainda mais complexidade ao jogo, introduzindo um bioma completamente novo criado pelo Gigante de Gelo. Esse ambiente congelado traz elementos como mamutes, tigres-dente-de-sabre, gêiseres e permafrost, exigindo estratégias diferentes para lidar com os desafios de sobrevivência. É uma expansão que não apenas adiciona conteúdo, mas também muda a dinâmica das partidas, já que a extinção está sempre à espreita, porém, curiosamente, a adversidade gera novas formas de vida e recursos, criando oportunidades interessantes.
Os quatro novos líderes dessa DLC dão ainda mais personalidade às civilizações. O General cria cidades voltadas ao militarismo; o Poeta valoriza beleza e cultura; o Vilão prospera no caos; e o Pintor transforma seus assentamentos em obras de arte custosas e extravagantes. Cada um deles altera radicalmente o estilo de jogo, tornando cada partida única. E com as novas eras, como a Nuclear, dos Caçadores, das Descobertas e do Iluminismo, o jogo permite explorar caminhos históricos distintos, desde avanços tecnológicos arriscados até culturas moldadas pela sobrevivência ou pelo conhecimento.
No coração da experiência estão os Gigantes, seis entidades com habilidades únicas que permitem criar biomas, combinar flora, fauna e minerais e gerar sinergias que moldam profundamente o destino humano. Ao desbloquear novas habilidades, os jogadores expandem suas opções e podem experimentar combinações criativas, transformando a paisagem e criando ecossistemas prósperos. Com a atualização Cataclisma, as relações entre líderes humanos ganham peso: alianças, guerras e até caçadas aos próprios Gigantes podem acontecer, trazendo uma dose imprevisível e divertida de drama emergente.

Visualmente, Reus 2 não tenta competir com produções de alto orçamento, mas seu estilo artístico colorido e expressivo funciona bem tanto no Xbox Series, onde roda de forma mais fluida, quanto no Nintendo Switch, que lida surpreendentemente bem com o escopo do jogo, exceto por pequenas quedas de desempenho em momentos mais carregados. Nada que comprometa a experiência geral.
O que realmente define Reus 2 é sua capacidade de fazer cada partida parecer uma história completamente nova. Você nunca sabe se a sua civilização vai prosperar em harmonia com a natureza, entrar em guerras sangrentas ou simplesmente se extinguir porque você não percebeu uma cadeia ecológica desequilibrada. E mesmo quando tudo dá errado, é irresistível começar de novo e tentar moldar o destino humano de outra forma.
O ponto fraco do jogo está na curva de aprendizado mais exigente. Para quem busca um city builder tradicional, a experiência pode parecer solta demais ou até pouco direta. O foco em observação e experimentação pode frustrar jogadores que preferem controle absoluto. Mas para quem aprecia jogos que incentivam criatividade, improviso e narrativas emergentes, Reus 2 é um prato cheio.
No fim, o jogo se destaca por oferecer algo verdadeiramente diferente no gênero: um simulador de criação cósmica, onde cada planeta gerado, cada humanidade desenvolvida e cada desastre provocado deixa um legado que se espalha pela galáxia. Uma experiência poética, caótica e fascinante, e agora acessível tanto no Xbox Series quanto no Nintendo Switch.
Se você gosta de jogos que fogem do óbvio e valorizam a experimentação, Reus 2 é uma experiência imperdível.



