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Crítica: E se a “Melhor Mãe do Mundo” fosse invisível para a sociedade?

Dirigido por Anna Muylaert, o filme é um retrato urgente sobre violência doméstica, maternidade e sobrevivência.

“A Melhor Mãe do Mundo” é daqueles filmes que fazem você sentir. Sentir tudo, de forma intensa. Você vai amar, odiar, rir, se emocionar e ser atravessado por uma enxurrada de sentimentos em apenas 1h45 de filme.

A história acompanha Gal (Shirley Cruz), uma catadora de recicláveis que, após sofrer abusos do marido, Leandro (Seu Jorge), decide fugir com os dois filhos (Rihanna Barbosa e Benin Ayo). Ignorada pela polícia e marginalizada pela sociedade, Gal transforma a dura realidade em uma aventura para proteger a infância dos filhos.

É uma trama potente. Daquelas que te indignam, justamente por refletirem a vida de tantas mulheres brasileiras. Mulheres que enfrentam abusos dentro do próprio lar, que lutam diariamente para sobreviver, criar os filhos e, muitas vezes, sequer conseguem sair dessa situação.

Mas o olhar sensível e afiado de Anna Muylaert impede que o filme se torne excessivamente pesado. Pelo contrário, a narrativa é envolta em um cuidado quase maternal. Você se sente protegido por Gal, como se a aventura criada por ela para os filhos nos abraçasse também.

Isso não significa, no entanto, que o filme nos poupa. Somos protegidos, mas não cegos. Vemos tudo. Sentimos tudo. Acolhimento, sim, mas também desespero, angústia e dor. E esse é o maior mérito da direção: o equilíbrio preciso entre a ternura e a crueza, entre a fantasia necessária e a realidade que insiste em nos lembrar onde estamos.

O filme também abre espaço para reflexões profundas que vão além da maternidade e do abuso. Ele toca em temas como a precariedade do trabalho dos catadores, a luta por moradia, a realidade das ocupações e a dura vida de quem vive em situação de rua. Mas, acima de tudo, lança luz sobre as múltiplas faces do abuso na vida de uma mulher, especialmente quando ela vive à margem da sociedade, onde a violência costuma ser ignorada ou, pior, normalizada.

As atuações são impecáveis. Shirley Cruz entrega uma Gal potente, vulnerável e absolutamente necessária. Seu Jorge constrói um Leandro cruel e repulsivo. E as crianças, Rihanna e Benin, são puro encanto. Com destaque para Benin, que rouba a cena em diversos momentos com sua doçura e autenticidade.

Falando nas crianças… como é importante proteger a inocência delas, né? Não há nada mais bonito do que enxergar o mundo pelos olhos de uma criança. E o filme retrata isso com uma delicadeza rara.

Saí da sessão profundamente tocada. Gal é, de fato, a melhor mãe do mundo. E é lindo perceber que ela representa tantas mulheres que, mesmo diante das maiores adversidades, lutam todos os dias para criar filhos que possam sonhar com um futuro melhor.

“A Melhor Mãe do Mundo” estreia no dia 7 de agosto e é um retrato urgente, necessário e profundamente humano da realidade de muitos brasileiros. Não deixe de assistir.

Ficha técnica:

A Melhor Mãe do Mundo (2025) – Brasil
Direção:  Anna Muylaert
Roteiro: Anna Muylaert, Grace Passô, Mariana Jaspe
Fotografia: Lílis Soares
Elenco: Shirley Cruz, Seu Jorge, Rihanna Barbosa, Benin Ayo

Distribuição: Galeria Distribuidora

Carol Fung
Carol Fung
Contando histórias sobre quem conta histórias

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