Hamnet é definitivamente uma das obras mais conhecidas de Shakespeare e, disparadamente, uma das mais complexas e introspectivas do autor. E, na mesma medida em que se sabe muito pouco sobre a origem da peça, também se sabe muito pouco sobre a origem de seu criador.

William Shakespeare tem um passado incerto, que nem mesmo os maiores biógrafos conseguiram investigar a fundo. As poucas informações que puderam ser levantadas indicam que ele viveu em uma pequena cidade da Inglaterra, era filho de um luveiro e teve três filhos após o casamento. O único menino, Hamnet, morreu ainda jovem, em meio ao caos da peste bubônica.
Agarrando-se a essas informações escassas e tomando-as como ponto de partida para uma história original, a autora Maggie O’Farrell escreveu o livro Hamnet, imaginando como teria sido a vida de Shakespeare nesse período e quais sentimentos a morte do filho teria despertado — sentimentos que, segundo a obra, o levariam a escrever Hamlet.
Essa romantização, livremente inspirada na vida do maior dramaturgo de todos os tempos, ganhou recentemente uma adaptação para o cinema dirigida por ninguém menos que Chloé Zhao, uma das cineastas mais renomadas da atualidade após vencer o Oscar por Nomadland e se envolver com o Universo Cinematográfico da Marvel ao dirigir Eternos.
Os papéis principais também são interpretados por nomes já associados ao Oscar. William Shakespeare é vivido por Paul Mescal, indicado a Melhor Ator por Aftersun em 2022. Já Agnes, esposa de Shakespeare, é interpretada por Jessie Buckley, que contracenou com Mescal anteriormente em A Filha Perdida, filme que lhe rendeu uma merecidíssima indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 2021.

A fórmula realmente não tinha como dar errado: uma diretora de calibre, dois atores de peso e a adaptação de um romance best-seller amplamente elogiado pela crítica, delicadamente construído ao tratar de uma das figuras mais emblemáticas dos últimos séculos. Tudo em Hamnet funciona.
Chloé Zhao tem como marca registrada a exploração dinâmica da natureza em seus filmes. Seja um deserto ensolarado, um vulcão ou um belo pôr do sol, é fato que ela transforma ambientes naturais em seus maiores aliados estéticos. Em Hamnet, Zhao utiliza campos verdejantes e florestas inglesas para compor uma paleta de verdes vivos, verde-musgo e tons terrosos como marrom e cinza, criando uma identidade visual muito própria para o filme.
Ainda assim, é preciso ser sincero: apesar de todos os aspectos do longa serem positivos, o grande destaque é um só — as atuações. Hamnet é a principal aposta da Universal Pictures para o Oscar de 2026 e, sem sombra de dúvida, a dupla protagonista está praticamente garantida nas indicações.
O filme se desenvolve de forma muito sensível, a história é tocante e explora um conceito pouco visto no cinema. Ainda assim, não dá para negar: o ponto alto é se deslumbrar com o espetáculo emocional em cena, vindo principalmente de Jessie Buckley.

Ela rouba a cena sem esforço. Embora o filme seja sobre Shakespeare — e Paul Mescal não deixe nada a desejar no quesito dramaturgia —, a verdadeira estrela é Buckley, que comanda e dita o tom das duas horas de duração.Aliada a uma trilha sonora capaz de tocar até os corações mais duros, a atriz assume por completo o protagonismo ao retratar a dor de uma mãe enlutada e de uma mulher constantemente abandonada pelo marido. Sem sombra de dúvida, gostando ou não de Shakespeare, de filmes de época ou de enredos dramáticos, Hamnet merece ser assistido por um motivo simples e poderoso: Jessie Buckley.



