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“Karatê Kid: Lendas” aposta na repetição da fórmula clássica

Novo filme da franquia estreia essa semana no Brasil

Quinze anos se passaram desde o último filme da franquia Karatê Kid, que trouxe Jackie Chan e Jaden Smith em um soft reboot da saga consagrada nos anos 80 com Ralph Macchio e Pat Morita. Engana-se, porém, quem acredita que 41 anos foram suficientes para que a franquia se reinventasse ou apresentasse uma nova abordagem narrativa. O novo filme, que estreia esta semana no Brasil, repete quase todos os elementos clássicos: o garoto recém-chegado a uma nova cidade, o romance com uma garota local e o conflito com o valentão campeão de karatê, que tem um histórico com ela.

A principal diferença desta vez está na origem do protagonista, interpretado pelo jovem e expressivo Ben Wang — escolhido após um extenso processo de testes. Seu personagem estabelece uma ponte entre os filmes originais e uma ressignificação do reboot de 2010 (The Karate Kid, com Jaden Smith), integrando elementos do kung fu ao karatê. As coreografias de luta misturam os dois estilos de forma fluida e visualmente interessante, com momentos que evocam a seriedade do karatê tradicional e a agilidade cômica do estilo de kung fu de Jackie Chan.

Wang demonstra carisma logo nos primeiros minutos de tela, mas sua jornada é, por vezes, comprometida por um roteiro que hesita em explorar plenamente os temas que propõe. O luto, uma das motivações centrais do personagem, é tratado com cautela, como se houvesse receio de tornar o tom da narrativa muito pesado. Isso acaba limitando o impacto emocional da história de superação e confundindo o espectador quanto ao real motivo pelo qual ele luta.

A participação de Jackie Chan, apesar de divertida, também se ancora no mesmo problema de motivação do protagonista. Suas decisões carecem de um background que as justifique de maneira convincente. Já Ralph Macchio retorna impulsionado pelo sucesso da série Cobra Kai, da Netflix. Sua presença tem como foco principal resgatar a essência da arte marcial que dá nome à franquia, funcionando como elo direto com o passado. Juntos, Chan e Macchio ajudam a construir uma ponte entre as gerações, reforçando a proposta do filme de se alinhar à nostalgia que invadiu o cinema nos últimos anos.

A montagem do filme é ágil, especialmente ao ilustrar a evolução do protagonista em seu treinamento. Elementos gráficos são utilizados de forma criativa para enriquecer a narrativa visual, embora acabem sendo abandonados no meio do filme, e retornando no final. A mixagem de som também se destaca em momentos cômicos, mas o uso repetitivo do recurso tende a se tornar previsível após as primeiras tentativas bem-sucedidas.

O ponto mais frágil do longa é, sem dúvida, o antagonista. Pouco desenvolvido, ele tem poucas falas — a maioria reduzida a ameaças genéricas como “tome cuidado comigo, novato.” — e nenhuma profundidade emocional. Isso compromete o impacto da luta final, que deveria representar o clímax entre dois personagens bem construídos. Essa ausência de construção dramática contrasta com o primeiro filme da franquia, onde Johnny Lawrence, vivido por William Zabka, era um rival com motivações claras, o que tornou seu embate com Daniel-san memorável e digno de reexibições em Cobra Kai.

Apesar de repetir a mesma fórmula narrativa dos filmes anteriores, Karatê Kid – Lendas consegue entreter graças às boas cenas de ação e à química entre os personagens. No entanto, deixa escapar a oportunidade de se reinventar, apostando quase exclusivamente na nostalgia para conquistar os fãs de longa data. É um filme que diverte, mas não arrisca — mais uma visita ao dojo conhecido, sem grandes surpresas.

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