Adaptado do romance Foregone, de Russell Banks, o longa acompanha os últimos dias de Leonard Fife, um renomado documentarista à beira da morte que, diante de câmeras operadas por seus antigos alunos, resolve contar sua verdadeira história — uma vida construída sobre mentiras, fugas e ilusões.
O que começa como um registro documental torna-se, aos poucos, uma desconstrução narrativa e visual, em que a memória e a culpa não apenas colidem, mas se sobrepõem e embaralham o presente, transformando o filme em uma grande confusão linear. A escolha estética do diretor Paul Schrader (conhecido por roteirizar Taxi Driver) é central aqui: o presente é filmado em preto e branco, no formato 4:3, emulando a linguagem visual de documentários dos anos 1970 e 1980. Isso não apenas reforça o caráter “fílmico” da confissão de Fife, mas também aprisiona o protagonista em um enquadramento fechado, quase claustrofóbico, sugerindo que ele está encurralado pelo próprio legado.

A alternância entre o presente e os flashbacks é o grande motor emocional do filme — e, aqui, a decisão de escalar Jacob Elordi (como o jovem Fife) e Richard Gere (como o Fife moribundo) revela-se um dos maiores acertos. Não há uma tentativa de imitação entre os dois, mas sim uma complementaridade expressiva que, em algumas cenas, salta aos olhos pela impressionante similaridade entre as atuações. Elordi empresta um ar rebelde, impulsivo e idealista ao jovem que foge da guerra do Vietnã, enquanto Gere, em uma de suas interpretações mais vulneráveis, dá vida a um homem quebrado pelo tempo, tentando ainda encontrar sentido nas ruínas de sua autobiografia. Em momentos particularmente poderosos, Schrader funde as atuações — os dois intérpretes quase se sobrepondo — para deixar claro que o presente não é uma reflexão sobre o passado, mas uma revivência torturante dele.
A câmera de Schrader segue esse mesmo princípio: move-se sutilmente em momentos de tensão ou instabilidade emocional, nunca chamando atenção para si, mas funcionando como uma extensão do que o personagem sente. Pequenos tremores, desfoques e closes lentos revelam que a narrativa está sendo construída a partir da mente instável de Fife — e, portanto, sujeita a desmoronar a qualquer instante. Um propósito ousado, mas que, em alguns momentos, acaba confundindo demais a audiência.

No entanto, a ambição estética de Oh, Canada nem sempre encontra equilíbrio com seu conteúdo. O filme, por vezes, se perde em sua própria solenidade, esticando sequências com diálogos excessivamente expositivos, sem conseguir dosar a tensão interna do personagem com um ritmo narrativo mais fluido. Um cineasta confessando suas mentiras em um set controlado por seus discípulos torna-se repetitiva. Schrader parece tão fascinado pelo conceito de uma verdade tardia que esquece de questionar se esse tipo de confissão, no leito de morte, é realmente redentora ou apenas vaidosa.
Oh, Canada é, no fim, um filme sobre memórias falseadas e sobre a necessidade humana de reescrever a própria história antes do último suspiro. É formalmente sofisticado e sustentado por boas atuações, mas excessivamente explicativo. Schrader, ao lado de Gere e Elordi, entrega uma meditação sobre o tempo e a culpa que impressiona mais pelo rigor estético do que pela emoção genuína.