Não é novidade que estrelas mirins no auge do sucesso acabam, cedo ou tarde, caindo na rede de adaptações dos livros de Thalita Rebouças. Aconteceu com Maysa, Klara Castanho e Larissa Manoela — parcerias tão bem-sucedidas que fazem as atrizes quererem repetir a dose. Foi o caso de Larissa Manoela, que após Fala Sério, Mãe! retorna agora em Traição entre Amigas, adaptação do primeiro livro escrito por Thalita, ainda nos anos 2000.
A trama acompanha duas amigas: a descolada e libertária Penélope (Larissa Manoela) e a tímida e introspectiva Luiza (Giovanna Rispoli). Enquanto Penélope ainda não sabe qual caminho quer seguir — e sente verdadeiro pavor de palco — Luiza está determinada a realizar o sonho de se tornar uma atriz de sucesso no teatro. As ambições das duas não poderiam ser mais diferentes, apesar da amizade sólida.

Inseparáveis desde a infância, Penélope e Luiza veem o vínculo estremecer por causa de um interesse amoroso em comum e de uma quebra de confiança, levando a uma briga devastadora capaz de romper um laço que parecia inquebrável. Seguindo trajetórias opostas para evitar o reencontro, o filme acompanha as duas em diferentes fases da vida, enquanto enfrentam problemas cotidianos, desafios profissionais e, claro, novos conflitos amorosos.
Thalita Rebouças é um fenômeno absoluto entre adolescentes e jovens adultas, especialmente mulheres que encontram grande identificação em suas personagens. Seu talento para narrar histórias é inegável — não à toa, costuma participar da roteirização de suas próprias adaptações.
É fácil entender o motivo de suas obras conquistarem tantos leitores, e unir essa força literária a atores queridos pelo público jovem costuma ser uma aposta certeira de bilheteria e divulgação. Traição entre Amigas, primeiro livro da autora, já apresenta o estilo que marcaria seus trabalhos posteriores, e surpreende ao abordar temas humanos e atuais mesmo 25 anos depois: a escolha (ou não) pela maternidade, relacionamentos tóxicos e frustrações no mercado artístico.
A ambientação em Curitiba
Em coletiva realizada em São Paulo, o elenco e a equipe revelaram detalhes da produção, e chamou atenção a escolha de Curitiba como principal cenário, fugindo do eixo Rio–São Paulo — inclusive com diversos atores curitibanos no elenco.

Com cenários marcantes como a Ópera de Arame e o Expresso Turístico, que liga a capital ao litoral na cidade de Morretes, o filme dirigido por Bruno Barreto se destaca positivamente pela fotografia e pelo cuidado visual.
Sobre as locações, a produtora Paula Barreto comentou: “Não tivemos praticamente apoio nenhum, nenhum tostão de nenhum empresário do Paraná e Curitiba. Tivemos um pequeno apoio do Rafael Greca (ex-prefeito), um apoio de logística, né? A Curitiba Film Commission autorizava a gente a filmar nas ruas e, mesmo assim, tivemos muita dificuldade, porque não botaram policiamento. Chegamos a contratar dez seguranças para proteger o elenco, porque — não sei se vocês sabem — Curitiba é uma das cidades mais bolsonaristas do Brasil, então eles odiavam a gente (…) apesar disso, o resultado na tela é um dos mais lindos que já produzimos.”
Cenas em inglês
Além de Curitiba, Nova York também aparece como parte da narrativa, com sequências inteiras em inglês protagonizadas por Larissa Manoela e Nathalia Garcia.
Larissa relembrou que não é totalmente fluente no idioma e afirmou:“Quando eu soube que boa parte do filme eu falaria inglês, duvidei que seria capaz, confesso (…) eu sei o quanto inglês abre portas, mas nunca fui incentivada quando criança a falar outras línguas (…) e agora tô me preparando cada vez mais. Acho que tô correndo o risco de ser chamada só pra fazer coisas em inglês.”

Ela também destacou o suporte recebido: “Contei com o apoio do nosso diretor, Bruno Barreto, que traz muito desse cinema gringo e me ajudou muito na pronúncia, além de um professor que me acompanhou. Fiz aulas durante a pandemia e tive uma parceira que fala fluentemente (Nathalia Garcia).”
Opinião
Traição entre Amigas oscila entre drama com toques de comédia e um relato íntimo sobre duas mulheres que esbarram em questões que dialogam com muitas jovens — provavelmente o principal público do longa. É um filme contemporâneo, que diverte na mesma medida em que cumpre um papel educativo ao alertar para situações tóxicas que mulheres podem enfrentar ao longo da vida.
A mensagem sobre amizade funciona bem, mas o grande mérito está em observar como as protagonistas se desenvolvem individualmente, em trajetórias paralelas, revelando amadurecimento de forma gradual e convincente.
Não chega a ser um filme profundamente marcante, mas ao unir uma boa história jovem que permanece atual após 25 anos de publicação, direção sensível e cenários belíssimos, o resultado é mais positivo do que negativo — e certamente uma boa opção para jovens garotas conferirem nos cinemas no dia 11 de dezembro.



