É impossível falar de um filme de Wes Anderson sem falar do próprio. O diretor, conhecido por produções que esbanjam simetria e cinematografia, lança seu 12° filme intitulado “O Esquema Fenício”. O longa é centrado no relacionamento entre um pai e uma filha e sua principal inspiração foi seu sogro, Fouad Malouf, que possuía raízes libanesas. Mas a simplicidade dessa temática se torna complexa ao entender mais profundamente quem são esse “pai e filha”.
Zsa Zsa Korda (Benicio del Toro) é um homem de negócios que por vezes faz uso de estratégias duvidosas e ilegais para conseguir seus acordos, além de não ser uma figura paterna admirável. Já sua filha mais velha, dentre outros 9 filhos, Liesl (Mia Threapleton), tem objetivos e ideais bem diferentes de seu pai: ser uma freira. Após Zsa Zsa milagrosamente sobreviver a outra tentativa de assassinato, ele decide deixar toda a fortuna conquistada para sua filha. Não sem antes encorajá-la a sair em uma viagem com ele e seu tutor/novo secretário, Bjorn (Michael Cera), para convencer alguns investidores a apostar em um projeto que está idealizando.
Toda essa história se passa em um local fictício do Oriente Médio de 1950, fazendo referência direta com o Líbano, território que na antiguidade era a Fenícia. A cenografia imprimiu bem a ambientação da época, com elementos característicos da região escolhida. Mantendo sua estética impecável, o diretor usou e abusou de movimentos lineares e precisos de câmera, que já carregam consigo seu estilo inconfundível, além da simetria dos enquadramentos. Com uma paleta de cores com contrastes suaves, os tons mais terrosos surgiam para gerar uma imersão na atmosfera do Oriente Médio, enquanto os mais frios estavam presentes no ambiente da casa dos protagonistas, trazendo uma sensação de frieza e distanciamento.

O roteiro se distancia um pouco do estilo habitual do cineasta, que frequentemente opta por temáticas mais cotidianas e humanas. Seu maior diferencial foi inserir elementos voltados ao gênero de ação, com espiões, explosões, segredos e lutas corporais – mantendo a excentricidade comumente vista em suas produções. Esse cenário, no final das contas, acaba servindo de suporte para o verdadeiro foco da narrativa, que são as relações familiares – em especial a paternal.
Plot-twists e outros momentos absurdos – como decidir o futuro dos negócios em uma partida de basquete – também estão presentes na trama, juntamente com o maior trunfo do filme: a comédia. Ninguém vai sair gargalhando, não é esse o estilo de Wes Anderson, mas são garantidas piadas sagazes, mordazes e pontualmente inseridas.
Além dos adjetivos já mencionados, o cineasta tem outra marca registrada em seus filmes: a seleção de atores, dos quais a maioria já esteve previamente em outras produções com ele. Benicio del Toro interpreta Zsa-Zsa e trabalhou recentemente com o diretor no filme Crônica Francesa. O ator imprime de forma moderada a força e vulnerabilidade necessárias que o personagem pede, tendo sido a escolha perfeita para o longa. A novata – mas muito talentosa – Mia Threapleton interpreta Liesl, a jovem aspirante a freira. Servindo de contraponto ao seu pai, a atriz conseguiu transmitir uma seriedade para o papel que por vezes tornava difícil saber o que se passava em sua mente, mas sempre incutindo firmeza em suas opiniões, em especial as que contrariavam o pai. Porém, o destaque ficou para Michael Cera, interpretando o peculiar Bjorn, com um ótimo timing para piadas e um sotaque que dava o tom para seu personagem. Outros nomes conhecidos que integram o elenco são Scarlett Johansson, Tom Hanks, Benedict Cumberbatch e Bryan Cranston, para citar alguns.
Uma narrativa estilizada, estética impecável e um grande acerto do diretor, que optou por manter a história direto ao ponto em sua mensagem, mesmo usando de atributos excêntricos e absurdos no caminho.
O Esquema Fenício chega aos cinemas dia 29 de maio pela Universal Pictures.